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" Viva a Poesia! "

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A PRIMEIRA SENSAÇÃO

Quase que estático, em frente à Faculdade, estou a observar o nada e ao mesmo tempo o tudo, o enigmático olhar do efeminado que entra às pressas pelo portão. Parado estou eu tentando ler algo sobre o impressionismo na obra “O Ateneu”, de Raul Pompéia, apreensivo com uma apresentação posterior. Enquanto isso, não evito observar o entra-e-sai pelo portão, o enigmático olhar da lésbica que entra às pressas na sala de aula. Parado estou eu tentando ler sobre o toque impressionista, os elementos realistas-naturalistas na obra já citada, enquanto os “universitários” conversam sobre bandas de forró que farão shows no fim de semana, hoje é quinta.
E minha, nossa professora, com seu chapeuzinho vermelho, blusão jeans, calça enxadrezada, sapato da cor do chapéu, passa também por esse portão, amanhã ela ouvirá um aluno tenso falar sobre impressionismo, esse aluno, eu, ou não.
Nos corredores (que há tempos caminho) passam alunos em direção à copiadora, ao w.c. (water closet), ao jardim para um cigarro. E os diálogos? Enquanto isso, só eu, meu monólogo, papel, rascunho. Os diálogos? Aqui já ouvi discussões sobre Osama, Bush, Ronaldo “Fenômeno”, Big Brothers Brazil 1, 2, 3 e 4, Mensalão, Asa de Arapiraca, asa de galinha com cachaça no bar da esquina. Nesses corredores já me inspirei tantas vezes, às vezes triste, às vezes contente. Nesses corredores já falei sobre a “perua” – “Carlão”*, ampliei o meu acervo, ouvi toc-tocs dos calçados das “patricinhas”, tic-tacs dos relógios dourados no silêncio das avaliações. Já ouvi explicações sobre literatura estrangeira em outra língua, já ouvi o silêncio dos alunos, Gostaria muito deixar esses corredores.
Mas, hoje me aprisiona aqui “O Ateneu” amanhã, “O Alienista” depois, na “Casa Verde”, sem pompa, com golpes de “machados”, com vozes intraduzíveis.
Quase que enfático, parado aqui, é o golpe. Uma “louca” c.d.f. quase que desmorona minha faculdade mental. Ela corre, corre, braços abertos, estendidos, gestos de vôo – peça teatral, literatura outra vez. E de repente em mim uma louca vontade de também voar, mas, não gesticulo, parado permaneço, quase que estático. Vôo, apenas em pensamento.
Quero deixar esses corredores. Vou pelas janelas, pelo portão. Não importa. Traduzirei o meu vôo.



*personagem da crônica A Caça (Lubricidade)

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