Majal-San (post.)

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" Viva a Poesia! "

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Impertinência





                     Naquela mente articulavam-se planos ecléticos para um breve futuro. Seus olhos, naquele momento, observavam apenas a infinita estrada que à sua frente apresentava-se. Seus lábios cerrados e o semblante birrento mostravam a ira que trazia há tempos.
                   Seu corpo ocupava desconfortavelmente uma das poltronas de um transporte coletivo, transporte esse que o conduzia todos os dias ao seu local de trabalho. Aquele rapaz, de certa maneira, num desses trajetos à empresa na qual trabalhava, deixou transparecer um de seus desejos diversos, ou um de seus planos mutáveis que até aquele momento era oculto; desejava ele no seu transporte, em alta velocidade, capotar por diversas vezes e depois explodir. Todos ao conhecerem seu desejo absurdo passaram a repudiá-lo.
                   Numa quinta-feira fria de agosto, naquele labirinto de concreto que era a sua cidade com prédios imensos, cheia de antenas e redes elétricas, numa longa avenida congestionada, com buzinas atordoando os tímpanos, vinha lentamente um coletivo lotado e nele havia um rapaz ranzinza, solitário, sentado desconfortavelmente numa poltrona. Parecia nesse momento que o coletivo encontrava-se vazio, pois, nenhum ser humano dirigia-se àquele solitário desconfortável da poltrona dianteira. Em sua mente com certeza passavam planos ou desejos macabros.
                   E de súbito, ao tentar cruzar a linha férrea, aquele coletivo foi atingido violentamente pelo trem cruel; pedaços do ônibus espalharam-se naquela extensa avenida.
                   Todos mortos! Disse um dos curiosos que ali observavam o acidente. Depois que muito analisaram, um sujeito foi visto desconfortavelmente levantando-se do esgoto, era ele, sujo e resmungando:
                   Vou chegar atrasado, droga!



                                                                           (Majal-San)

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Retorno II





Cadê você além do poema?
Aonde vais além da escrita?
Reviverás nos meus traços?
Nascerás outra vez à minha visão?
Estarás novamente em meus versos?
Iludirás outra vez as minhas rimas?
Revolverás novamente os meus rascunhos?
Onde poderei te encontrar?


Retorno





            
Estás de volta...
Não sei se tão forte
Não sei se me envoltas
Talvez minha sorte.

Estás de volta...
Não sei se pra sempre
Não sei se visitas
Ou apenas implicas.

Estás de volta...
Não sei se provocas
Não sei se incitas
Ou apenas excitas.

Estás de volta...
Não sei se sou fraco
Não sei se invocas
Ou voltarei ao buraco.


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Meia Década



Observo a maçaneta...
Não a toco
Não tocas
Não giras
Não bate
Minhas ideias também não.

A maçaneta...
A massa
A maçã
A minha futura neta
A maçaneta imóvel
Visita nenhuma.

A tua – espero.
À tua espera.
A minha – esperas.

Observo a maçaneta
Sentado aqui a maçaneta
não me observa.





domingo, 10 de agosto de 2014

Imagens absortas




A imagem à retina imediata
O aroma da menina inexata
A lembrança da ausência que irrita
O impulso à essência que incita
Os rabiscos que contornam a poesia
As arestas que revelam a agonia

A imagem na neblina que acata
A lembrança da ruína que ataca
Num impulso insolente que implica
Nesse aroma indecente que excita
E meus rabiscos que me envolvem à agonia
Inutilmente se transformam em poesia.

                   

domingo, 22 de junho de 2014

Desde la ventana de un hotel




A realidade está bem ali,
Pelos ares logo estarei lá.
Essa beleza aconchegante ficará aqui,
Buenos Aires, bela, permanecerá cá.

Quando novamente pisarei Avenida de Mayo?
Quando, de perto, novamente Obelisco?
E as poses espontâneas en la Plaza de Mayo?
San Telmo, Recoleta, Palermo em meus riscos...

O despertador logo logo avisará...
Para trás ficará ela, linda, rosada.
Buenos Aires à minha espera estará?
...e os casais? – tango na calçada.

Quando outra vez, de perto, El Caminito?
Quando, tão próximo, de novo La Boca?
E o frio que parece tão infinito?
...e a mistura de tantas línguas nas bocas.












                            

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Lojinha de artigos esportivos do Time do Papa


Congresso Nacional - Buenos Aires


"B-a-r-u-l-h-o-s & Tatu aos pés"



Eu sem asas
Parecia parado
Ele com asas
Parecia imóvel

Fez-se o silêncio no ar
E o ar da cidade se via
Volta o barulho no ar
Meu esqueleto imóvel

“Atenção para a aterrissagem...”
Mas, o que importa a “atenção”
se toda essa tensão é minha?

Eu, sem asas,
agora desejo o ar
Eu, imóvel,
agora preciso voar...

O tempo é curto!
O espaço é pouco...

Decolagem não há.







quarta-feira, 21 de maio de 2014

12h45min (Daqui a pouco)




Daqui a pouco
         estarei no meu inferno
         ou o meu inferno virá a mim
         ou o inferno alheio virá

Daqui a pouco
         partirei ao meu destino
         ou não haverá destino
         ou minhas inconsequências
                            − meu destino

Daqui a pouco
         desistirei do quase improvável
         ou o “quase” é impossível
         ou o “impossível” quase o é

Daqui a pouco
         viverei o meu esperado carma
         visitarei um inferno – carma
         e alguém, alheio, conciso dirá
                            − tenha calma!

         

domingo, 27 de abril de 2014

Erva daninha






Caju, cajueiro – um pouco distante.
Manga, mangueira – água na cara e na cabeça.
Coco, coqueiro – coqueiro seco, também distante.
Jaca, jaqueira – é bem ali.
Banana, bananeira – bananal, um pouco ausente.
Limão, limoeiro – nem Ana nem dia.
Abóbora, aboboreira, abobreira, abrobeira – sei lá qual beira...
Pimenta, um pé, tenho dois pés, pimenteira.
Pitomba, pitombeira – píton na beira.
Mamão, mamoeiro, abacate, abacateiro – ao abate...
não há mais abacate...
Seriguela, acerola, batata, graviola;
O maracujá insiste... a fruta-pão, a fruta, o pão.
Sem eira, e a beira?
Goiaba, goiabeira – óia a beira!
Cana, canavial, cana caiana, cana – parei.
Macaxeira, macaxeira, cheira a brisa;
A brisa cheira? Estou na maca.
Sem eira nem beira – à tua mercê.



                                      

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Interrogação


Por que chamas o poeta de mentiroso?
Por que chamas o poeta de fingido?
Por que não acreditas no poeta?
Por acaso mentiu quando disse que te ama?
Será que fingiu quando chorou no teu ombro?
Serão mentiras suas escritas?
A lua da qual ele fala será que não existe?
Aquela cachoeira de águas límpidas é imaginária?
As longas caminhadas,
As noites sem dormir,
As cenas patéticas,
Achas que foi apenas exibicionismo?

O poeta mentirá quando disser que te esquecerá?
O poeta fingirá quando sorrir não tua despedida?

Por que não acreditas no poeta?

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Cartão amarelo





O verde nos rodeia
O álcool nos invade
A bela música nos penetra
Da amizade espero permanência

Não há bosta de gado
Escorregões nos falta
Falta não foi, apito não há
O campinho está ausente

O verde timidamente nos rodeia
O álcool de mansinho faz efeito
A bela música vai nos embriagando
Da amizade espero permanência

Não há outros obstáculos bovinos
Escorregões apenas nas lembranças
Não há árbitro, não há apito
Campinho não há


O jogo ainda vai começar.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Forca sem força


Naquele dia, ao tentar despertar,
eu vi minha felicidade pendurada
por uma das mais antigas armas.

Eu vi os braços dos meus abraços amarrados.
Eu vi as mãos das minhas carícias atadas.
Eu vi os dedos dos nossos pecados paralisados.
Eu vi as pernas dos nossos orgasmos imóveis.
Eu vi os pés das nossas caminhadas tesos.

Naquele dia, ao tentar adormecer,
eu vi minha alegria ceifada
por uma das mais antigas armas:

O amor.

Sim.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Obscuro


Em cada face vejo a tua
Em cada riso vejo o teu
Quando verás o meu?

Em cada voz imagino a tua
Em cada olhar imagino o teu
Quando ouvirás o meu?

Em cada curva vejo a tua
Em cada olhar vejo o teu
Quando fitarás o meu?

Em cada alegria imagino a tua
Em cada suspiro imagino o teu
Quando provocarás o meu?

Em toda despedida lembro a tua
Em todo semblante triste o meu
Quando poderei admirar o teu?

Em toda canção lembro a tua
Em todo poema triste o meu
Quando poderei declamar o teu?

Em qualquer lágrima estancarei a tua
Em qualquer suspiro imaginarei o teu
Quando poderás eternizar o meu?


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Ainda há tempo


Já é tarde...
Invadiste meu peito
feito o cego punhal.
Quebraste meus olhos
feito o choque no trânsito,
Dilaceraste esse órgão
feito doença terminal.
Queimaste meu cérebro
feito chama infinita,
Iluminaste meu breu
feito o sol matinal.

Já é tarde...
Habitas esse espaço
feito imigrante leal.
Tomaste minha mente
feito desejo carnal.
Desviaste meus atos
feito um golpe mortal.
Mostraste a paixão
Feito um gesto banal.
Partiste sem adeus
deixando-me nesta tristeza total.

                  

Dentro de mim



Longe posso até
o horizonte não avistar,
um sorriso seu
relevante não escutar,
distante posso não lhe ver
em meus pelos repousar,
sinto, sonho, sou.

Louvo a minha mente,
ostento a tua memória,
ultrapasso o invisível horizonte,
reverencio sem avistar,
desejo sem escutar,
espero minha cabeça em teu seio pousar,
sonho, sinto, sou.


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O silêncio no sorriso



O vento na cara cínica
Não refresca a pele vermelha
Esse vermelho dissimulado

O sereno na face quente
Não resfria a pele irritada
Essa irritação disfarçada

O silêncio no sorriso

A névoa no rosto cansado
Não explicita a inspiração
Essa inspiração tão esperada

A brisa na fachada exposta
Não embaça a minha visão
Essa visão tão limitada

O silêncio no sorriso.


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Poeta Sempre






Eu sou assim: apareço, desapareço...
às vezes alegre, às vezes triste...
pensativo, aleatório...
às vezes poeta, às vezes rude.

Eu sou assim: menciono, emudeço...
às vezes bravo, às vezes ameno...
irrelevante, essencial...
às vezes eu, às vezes todos.

Eu sou assim: descritível, enigmático...
às vezes tonto, às vezes lúcido...
intolerante, compreensivo...
às vezes poeta, às vezes rude.

Eu sou assim: como me fazem, como eu tento...
às vezes torto, às vezes ereto...
atordoante, atordoado...
às vezes Milton, às vezes o outro.






quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Sentido





Há no ar libidinoso
O que não há ali
Ali o maldito
Mas aqui a libido há
Não tão bem falada
Que também criticada
Por cada bendito
Que bem dito é libidinoso
Porque o sentido é mau dito
De repente, tu com teus gestos,
Em cismas, em sina, ensinas
Como valer o ato do tato
Então vai ler o que designa
O que ouves, o que ouço,
O que houve, o que é nosso,
O que há no ócio do ofício...
É fácil, é difícil
E no tato, no ato és apto,
És guloso, mas formoso
És guloso e libidinoso
E tocas, tocas, tocas
No tá, no tato, no ar, no ato...
Aproximando-te sem que eu te peça
Afasto-me da principal peça
E me pergunto quem te disse venha,
Mesmo assim chegaste
E estragaste o jogo perdendo a peça.
Sem a preocupação com o jogo,
Afastamento, peça perdida,
Quente, disse: venha!


Deserto





Será que esqueceste
a noite mais curta?
Será que esqueceste
a lua mais tímida?

Outras noites - curta!
Tentarei te esquecer.
Outras noites - sinta!
Tentarei não te ver.

Outras luas - medito.
Tento não me derramar.
Outras luas - escrevo.
Tento não te mencionar.

Será que esqueceste
a madrugada tão próxima?
Será que esqueceste
a manhã tão distantes?

Outras madrugadas - curta!
Tentarei sobreviver.
Outras madrugadas - sinta!
Tentarei não sofrer.

Outras manhãs - medito.
Tento não chorar.
Outras manhãs - escrevo.
Tento não gritar.

Será que não esquecerei?
As noites são infinitas!
Será que não esquecerei?
As luas são explícitas!

Será que não esquecerei?
As madrugadas são vazias!
Será que não esquecerei?
As manhãs são vazias!

Desejo noites curtas.
Desejo luas invisíveis.
Desejo madrugadas distantes.
Não desejo manhãs.



                 

O escolho


Entre os meus dedos
Entre essas linhas
Entra a poesia

   Sobre o papel
   Sobre meu sentimento
   Sobre os meus ombros
   Sob teu julgamento
   O meu simplório dia

Entre os meus dedos
Entre essas linhas
Entra a agonia

   Sob o tapete
   Sob a poeira
   Sob os meus pés
   Sobre tua maneira
   A alegre rebeldia

Entre os meus lábios
Entre os teus lábios
Essa distância fria.