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" Viva a Poesia! "

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

MEUS AMORES

Aguardai-me! Estou voltando.
Fervorosos beijos em vossas faces
Com amor ao chegar colocarei,
Assim aguardai-me, estou chegando.

Minha pequena, novamente beijar-te-ei,
Matarei as saudades dos teus lábios,
Ouvirei com satisfação a tua voz.
Meu pequeno, em Deus abençoar-te-ei.

Estou regressando, da janela vejo um rio;
Observo! Lamento a poluição, mas eu rio.
Aguardai-me! Logo chegarei.

Esquecerei o erro humano, a podridão;
Estaremos todos juntos, vossos risos,
Nossos beijos, não temos tempo à poluição.

BUSCA MINUCIOSA




Assoviando uma bela canção
Mentindo ao meu próprio coração
Observando um espaço na escuridão
Relembrando uma triste ilusão

Andando nessa longa avenida
Memorizando um soneto e uma frase perdida
Observando e consertando versos da vida
Rebuscando tua triste despedida

Aguardando o teu e o meu despertar
Memorizo e assovio sonetos e canções
O meu sonho é te ver voltar
Revivermos insaciáveis paixões.



sábado, 20 de fevereiro de 2010

REMINISCÊNCIA (Uma Imagem no Fim da Tarde)


     Passeando naquele início de noite, entre as galerias, Amor exibia seus dotes másculos e as máculas deixadas pelo tempo. Em ligeiros olhares disfarçados procurava um olhar recentemente provocador. Um olhar indagador sob a candura notável de uma face até aquele momento desconhecida. Ele disfarçava também o acelerar repentino daquele órgão que bombeava seu fluido rubro. Disfarçava também o eriçar da sua penugem que parecia querer expelir-se dos poros. Ainda descrevendo o seu tremor ou o seu temor, a que, por que, não se sabe – ainda – ele também tentava disfarçar – sem sucesso – o calafrio que o invadia. Passeando, não. Agora não mais passeando, parecia que rompia barreiras, que cavava trincheiras. Amor parecia caçar sua presa, mas, dissimulado.
     Pára em frente a uma obra esplêndida suspensa na cama creme – tantos quadros ali expostos. Salão imenso, imenso na tradução mais enfática de imensidão. Eram imensas camas, quatro altíssimas camas que formavam aquele salão onde se expunham suntuosas obras. Seus olhos ainda perdidos no público procuravam outros olhos não tão perdidos, e ao público seu olhar é lançado.
Depara-se com um ser de inigualável beleza. Talvez ele saiba o que é e o que não é belo. Focaliza um ser possuidor de bondade explícita. Talvez ele saiba o que é e o que não é mau. Esbarra com um ser possuidor de atos lícitos, aparentemente. Talvez ele saiba o que é e o que não é corrupto. Olham-se de súbito.
     Um rápido cumprimento, olhos nos olhos novamente, mão na mão. Uma alavancagem e ela estava nos seus másculos braços. Um outro puxão e corpo no corpo, ou, corpo a corpo. Para Amor, uma nova paixão. Bruscamente, porém não inesperadamente, ela gruda-se em seus punhos sem dizer o nome, e sem ouvir perguntas sobre identidade puxa o seu corpo contra o dela, joga o seu corpo contra uma das camas, uma das quatro camas de cor creme, e gemem. O público para eles era invisível. Eles para o público eram invisíveis. Só os quadros ali, suspensos nas camas altas de cor creme, tremem. E eles imitando os quadros, as camas cremes, também tremem. E de repente Amor se vê cercado, ele está alvo, ele é o fito de fato. Sem mais querer dizer o nome, ela enfia a lâmina do seu olhar nos olhos de Amor. E os seus punhais afiados, ela introduz no peito de Amor que é cravado agora em uma das camas cremes, e ele geme. Não se sabe se de prazer ou de dor, mas, ele geme.
     A visibilidade retorna. À visibilidade Amor retorna, agora ele é mais uma obra surrealista exposta em uma cama creme de um salão imenso, numa galeria distante.

CERVEJA, LOURA, MULHER


Faça chuva ou sol
Você é melhor,
Faça frio ou calor
Você é demais,
Esteja quente ou gelada
Você é a saída,
Esteja na mesa ou no chão
Você é a solução.

Esteja de pé ou deitada
Você é tesão,
Esteja ao lado ou distante
Você é inspiração,
Seja Brahma, Antarctica,
Kaiser, Malt, qualquer “beer”,
Seja no copo, na mesa,
Na garrafa, na cama, de pé,
Ou deitada, na mesa gelada,
Ou quente na cama.
É o meu, é o nosso desejo.

CISCO CÓSMICO

Rachei rochas
Rasguei rugas
Rasurei rascunhos
Raquítico rastejei

Abandonei abismos
Agonizei angústias
Acordei atônito
Atrasado argumentei

Quebrei quimeras
Queimei queixas
Quadrupliquei quadrúpedes
Quarentão questionei

Unifiquei ufanos
Urbanizei Urano
Ultrapassei uníssonos
Ultrajante ultimei

Encarei enguiços
Extrapolei exemplos
Escapei eufêmico
Estapafúrdio estacionei

Lamentei lágrimas
Lapidei lascívia
Latejei lamuriante
Lacônico lutei.

PROSA POÉTICA PERDIDA


O meu vinho não me aquece, não está quente. O meu vinho não me acalma, não me esfria, não está gelado. Esse vinho não me faz esquecer (ou não quero esquecer?), ou tenho que esquecer? Esse vinho não me faz lembrar, pois permanece desde o início nessa minha mente fraca (ou quero que permaneça?), a tal lembrança, muitas lembranças – teus toques e retoques – teus lances e relances – meu(s) prazer(es) e desprazer(es)...
A minha fumaça não flutua, essa fumaça não, não é minha nem é tua. Um dia as espirais me inspiraram, inspiração insana. A nicotina (minha segunda menina) está aqui, permanece aqui – não me abandona (a outra me abandonou) – menina má. Vou tentar dormir, talvez consiga ou a poesia me persiga, ou tu dirás: “Poeta, siga! Pois, já parei”.
Adeus! Pois, “Deus dará!”.




*Imagem retirada da Internet

LATE

Show me please
A beautiful smile.
I shall write a poem
About that smile.
I would like to be with you now,
No, I would prefer only a kiss.

Come quickly!
Do you know the way?
It doesn't matter!
It’s later then I thought.
How the time flies!
I'm tired. Go away!
Remember me to your heart.

With or without smile
I won't write!
Never more!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

RABISCO

O vermelho do fogo no canavial
Torna o céu colorido;
O cinza, o amarelo, o branco
Rabiscam o azul infinito.

O verde extenso da planície
Torna-se um preto conseqüente;
O breu na ausência do sol
Deixa-nos cegos de repente.

Um outro verde de um par de olhos
Importuna minha mente incolor,
Que empalidece meu semblante.

Talvez castanho, esse par de olhos
Esteja em meus sonhos sem pudor,
Hoje, amanhã, a qualquer instante.

A MENINA QUE QUASE PASSA

A menina de verde
Não dá esperanças
Ela passa sem tranças

A menina magra
Não vê ou finge
Ela simplesmente flagra

A menina morena
Não olha, provoca
Ela disfarça, não acena

A menina que namora
Não quer lembrar passados
Mas gostaria de estar aqui agora.

CONSUMO


Em minha residência dificilmente (dificilmente corresponde aqui a “quase” impossível) entra maionese, molho de tomate, extratos, qualquer enlatado, muito menos produtos fora da validade impressa nos recipientes – vidro, plástico ou papel. Certo dia, ao chegar do supermercado, minha esposa perguntava: olhou a validade? Tá dentro do prazo de validade? Viu a data? Eu peguei uma caixinha de maionese e girei pra lá, pra cá e disse: doze de novembro – era um fim de tarde de terça-feira, onze de novembro.
– O quê? – Interroga brava e preocupada. A maionese já havia entrado em nossa casa sob resistência. Porém, eu havia mentido a respeito da data de validade. Comi da salada.
Uma senhora dizia que não consumiria produtos estrangeiros de forma alguma, principalmente produtos americanos. Estampas em suas blusas, camisas, bonés, só estampas nacionais. Ela se preocupava em observar se algo era ou não nacional antes de consumir. Ela já deixou de participar de vários eventos por presenciar destaques ou alguma apologia a algo estrangeiro. Não vestia as cores vermelha, branca e azul juntas – tinha pavor dos Estados Unidos. Não usava a cor vermelha – lembrava a Rússia. Branca e vermelha, nem pensar – lembravam o Japão. Geralmente suas vestes eram ou todas em branco (não se lembrava da mente de alguns patriotas) ou todas em preto (não se lembrava das trevas em que se encontrava seu país).
Essa senhora visitava uma amiga durante a festa natalina. Alegria, confraternização, discussão sobre o passado ano, novidades, surpresas. Hora de dormir, escovou seus dentes e foi à cama. Agradeceu a Deus por ter amigas tão leais, a ter vivido mais um dia. Dormiu.
A amiga, preocupada, no dia seguinte acordou logo cedo. Encontram-se à mesa para o café da manhã.
– Mulher, esqueci de colocar seu creme dental no banheiro.
– Ah, querida! Encontrei creme dental... não diga... não diga que aquele creme não é nacional.
– Não viu?! É fabricado em New Jersey. – Disse a amiga desolada. A outra, irritada, dirige-se ao mais próximo dentista e torna-se banguela totalmente.
Em “reuniões etílicas” (expressão usada por um amigo lá do norte para designar nossos encontros de bebedeira) lemos textos diversos, sem a preocupação com datas de validade. Setembro, janeiro, quinze, dezoito. Sem a preocupação inquietante em saber quem são seus construtores. Alcântara, Alcar, Drummond, Rimedualc, Moraes, Matias, Ramos, Navi, Pereira...
Lemos, vivemos, degustamos poesia.

ACABARAM-SE AS RIMAS

Toca! Não me toca mais.
Toque! Não atendo mais.
Troca o eco dos teus ais,
Troque os discursos banais.

Chama! Não escuto tudo.
Chame! Agora estou surdo.
Chama! Incendiou o meu peito,
Chame! Já não tem mais jeito.

Viva! Todos passam, tudo passa.
Viva! Já não faço graça.
Vivo! O palhaço está ao léu,
Vivo sem rimar mel, fel, céu...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

VOCÊ E A AQUARELA, A TELA LIMPA E EU SUJO

Nenhum grito
Nenhuma audição
Nenhum golpe
Nenhuma dor
Nenhum toque
Nenhuma excitação


Nenhum olá
Nenhuma despedida
Nenhum traço
Nenhuma cor
Nenhum adeus
Nenhuma investida

Nenhum passo
Nenhuma cadência
Nenhum soco
Nenhuma dor
Nenhum repúdio
Nenhuma indecência


Nenhum olhar
Nenhuma paisagem
Nenhum risco
Nenhuma cor
Nenhum som
Nenhuma imagem.

TUDO PASSA



O fruto está distante dos meus dedos
O aroma às vezes próximo demais
Tenho que me afastar dos meus medos
Seguir em frente e não olhar pra trás

A polpa está distante do meu palato
O aroma às vezes próximo demais
Tenho que controlar a visão e o tato
Seguir em frente e não olhar pra trás

O suco está distante da minha sede
O aroma às vezes próximo demais
Tenho que desarmar a minha rede
Partir e esquecer o que ficou pra trás.

I HAVE NOTHING TO SAY, BUT THIS

You haven't understood me...
You haven't talked to me;
I live across your eyes
But you haven't visited me.
I'm waiting for your sweet kiss;
Nowhere I will be happy without you,
In my dreams I'll be near you forever,
But I haven't dreamt lately,
Because I cannot sleep.
Why can't I sleep? I don't know.
I feel extremely happy
When you stay with me.
But you haven't understood me...
You've the hardest heart,
It's the most important ghost.
Don't forget my words,
I've trouble to forget you.
Still I love you!
But you haven't understood me...
Do you love me?
But you haven't answered my questions.

Let's start our life, please!
Come back without delay,
Because I am at war with myself,
Come here to help me.
But you haven't understood me...
Why?
I have nothing to say, but this...
I miss you.

EXTERNO

Vou me encontrar no breu
Vou te enxergar no luto
O meu escuro é teu
O véu escuro é curto

É longo o teu cismar
Vou buscar o carvão
Vou queimar, acender, clarear
E verás que pisamos o mesmo chão

Vamos pular o muro
Vamos assumir o ato
Fugiremos desse escuro
Reconhecendo o fato

É longo esse caminhar
Não vou esperar transporte
Vou seguir, persistir, vou chegar
Pisando sempre firme e forte

Vou jogar a capa
Vou guardar as chibatas
Vou extrair a farpa
Antes que na cor batas

Não vou pintar o carvão
Não vou acender o breu
Não vou retirar o luto
Pois deveras a cor já morreu.

CONTÍNUO

Sonhar;
Um direito que temos todos nós.
Realidade;
Um preceito que devemos assumir.

Sonhe.
Planeje.
Programe.
Execute!

Realize.
Prossiga.
Respeite.
Cumpra!

ARMADILHA

Rio do meu retorno...
Nas águas do temporal eu rio.
Esperou por ti o tempo
Em tempestades no covil.

Serpentes fizeram o adorno,
Nos meus carnavais a serpentina,
Confetes, veneno, antídoto, alento...
Rio do meu retorno – tempestade menina.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

TEIMA

É apenas um órgão
Eu nem sei tocar
Gozarei sem instrumento

Vejo apenas um órgão
Eu nem posso tocar
Partirei sem ressentimento

Vi apenas um órgão
Eu nem queria tocar
Toquei sem constrangimento

Era apenas um órgão
Já imaginavas tocar
Gozaste com maestria

Vês apenas um órgão
Já sabes tocar
Ficarás por rebeldia

Viste apenas um órgão
Sempre quiseste tocar
Tocaste em minha agonia.

THINGS OF THE HEART II (That's heart)

Arrows in my direction
Nonsense trying forget you
Dreamer, I hope your kiss
Rain falls from my eyes
Endless flames burn
Insistent ardor in my mind
Arrows in my direction.

THINGS OF THE HEART (That's heart)

Leaves fall down,
There's nothing left here,
Inside chest (left side)
Stay an organ...
It's a persistent heart,
Insistent, crazy
Therefore, it's so complicated.

VOLTO JÁ

Mais uma vez viajo nos teus olhos...
Eu disse isso há uma semana.

Outra vez estaciono meu olhar nos teus lábios...
Eu pensei nisso há um mês.

Novamente flutuo em minha imaginação...
Tentei evitar isso ontem.

Mais uma vez aprecio o teu sorriso...
Tento evitar isso agora.

Outra vez me certifico da necessidade da tua presença...
Tento evitar isso agora!

- Sairei de mansinho.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

IMORALIDADE À AMARGA PALAVRA AMORAL

Lavra
a palavra
e lava
com lava
a larva alva
que vaza
da asa
a qual a brasa
arrasa
tornando-a também
brasa
que depois se apaga
com a palavra lavada.

CICLO

Quebra-se novamente o brinquedo
Quebra-se o vaso
Quebra-se a cara
Quebra-se a peça
Uma peça

Corre outra vez a lágrima
Corre o sangue
Corre o ódio
Corre o rio
Não rio

Enterra de novo o tesouro
Enterra o sabre no peito
Enterra o cadáver antigo
Em terra não sobrevivo

Na peça a ferrugem
A peça ao rio
Na visão o cinza
No silêncio não rio.

P.N.

Eu tenho que esquecer...
O que? Quem?
Não sei.
Esqueci!

Eu tenho que procurar...
O que? Quem?
Não sei.
Não perdi!

Eu tenho que conhecer...
O que? Quem?
Não sei.
Não vi!

Eu tenho que abraçar...
O que? Quem?
Não sei.
Sumi!

Eu tenho que esconder...
O que? Quem?
Não sei.
Assumi!

Eu tenho que me afastar...
Do que? De quem?
Eu já sabia.
Fugi!

ASSIM MESMO

Não vou falar de novo
Sobre o que me observa.
Essas duas lindas pérolas
Que me deixam extasiado.

Não quero falar de novo
Sobre o que me fascina.
Esses dois fortes faróis
Que me deixam excitado.

Não irei falar de novo
Sobre o que me enlouquece.
Essas duas raras jóias
Que me deixam inspirado.

Não pretendo falar de novo
Sobre o que me irradia.
Esses dois maravilhosos globos
Que me deixam tão calado.

Falei.

A PRIMEIRA SENSAÇÃO

Quase que estático, em frente à Faculdade, estou a observar o nada e ao mesmo tempo o tudo, o enigmático olhar do efeminado que entra às pressas pelo portão. Parado estou eu tentando ler algo sobre o impressionismo na obra “O Ateneu”, de Raul Pompéia, apreensivo com uma apresentação posterior. Enquanto isso, não evito observar o entra-e-sai pelo portão, o enigmático olhar da lésbica que entra às pressas na sala de aula. Parado estou eu tentando ler sobre o toque impressionista, os elementos realistas-naturalistas na obra já citada, enquanto os “universitários” conversam sobre bandas de forró que farão shows no fim de semana, hoje é quinta.
E minha, nossa professora, com seu chapeuzinho vermelho, blusão jeans, calça enxadrezada, sapato da cor do chapéu, passa também por esse portão, amanhã ela ouvirá um aluno tenso falar sobre impressionismo, esse aluno, eu, ou não.
Nos corredores (que há tempos caminho) passam alunos em direção à copiadora, ao w.c. (water closet), ao jardim para um cigarro. E os diálogos? Enquanto isso, só eu, meu monólogo, papel, rascunho. Os diálogos? Aqui já ouvi discussões sobre Osama, Bush, Ronaldo “Fenômeno”, Big Brothers Brazil 1, 2, 3 e 4, Mensalão, Asa de Arapiraca, asa de galinha com cachaça no bar da esquina. Nesses corredores já me inspirei tantas vezes, às vezes triste, às vezes contente. Nesses corredores já falei sobre a “perua” – “Carlão”*, ampliei o meu acervo, ouvi toc-tocs dos calçados das “patricinhas”, tic-tacs dos relógios dourados no silêncio das avaliações. Já ouvi explicações sobre literatura estrangeira em outra língua, já ouvi o silêncio dos alunos, Gostaria muito deixar esses corredores.
Mas, hoje me aprisiona aqui “O Ateneu” amanhã, “O Alienista” depois, na “Casa Verde”, sem pompa, com golpes de “machados”, com vozes intraduzíveis.
Quase que enfático, parado aqui, é o golpe. Uma “louca” c.d.f. quase que desmorona minha faculdade mental. Ela corre, corre, braços abertos, estendidos, gestos de vôo – peça teatral, literatura outra vez. E de repente em mim uma louca vontade de também voar, mas, não gesticulo, parado permaneço, quase que estático. Vôo, apenas em pensamento.
Quero deixar esses corredores. Vou pelas janelas, pelo portão. Não importa. Traduzirei o meu vôo.



*personagem da crônica A Caça (Lubricidade)

MISSA




O odor forte da hipocrisia
Penetra (fulminante)mente minhas narinas.
Seres robotizados sentam, levantam, sentam,
Cantam, repetem, calam, ouvem,
Prometem, não cumprem.

Alguns, pacientes, esperam
O término da celebração – o orador não cala.

Alguns, impacientes, esperam
Os petiscos, a cevada, o álcool – não vêm.

O cisco da bondade efêmera
Penetra, cortante, os meus olhos.
Seres robotizados perdoam e se emocionam,
Têm esperanças – quem sabe realizações?

Seres que rezam pela paz
E difamam o vizinho.
Seres que rezam pela paz
E ao mesmo tempo me observam.

O que veem? Não sei! Amém!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

SINCERITY (You can't use that word)

Tears stream down my face again
‘Cause you’re faraway
And on the corners of my life I stay
Eternal hope next to pain
Cruel expectation in my action

I wanted to be strong like you
You forgot everything easily
Your recovery came quickly
But my obscure sorrow is true
Immortal nightmare in my action

Stubborn foolishness with my crazy hunt
‘Cause you’re faraway
And my main mistake I fell in love I say
Cruel stupidity I believed in you
Terrible truth just in my action.

INSISTÊNCIA

Não mais serei poeta
O pau – apenas madeira
O estilhaço – apenas metal
As folhas verdes ou secas
Essas folhas – apenas vegetal

Não mais serei poeta
O tal não mais serei
O espaço – não ocuparei
As folhas molhadas ou secas
Esse orvalho, essas folhas
Apenas líquido e vegetal

Não mais serei poeta
O papel – celulose
A pena...
Que pena que nada!
Massacrem! Pisem! Matem!
Gritarão meus antigos leitores

Não mais serei poeta
A inspiração – delírios
A pena...
Que pena que nada!
Amassem! Atirem! Quebrem!
Gritarão antigos amores

Se declamo sou louco
Se falo sou louco
Se calo sou louco
Se grito sou louco
Hoje escreverei
Apenas escreverei
Hoje estou poeta

O pau – poesia
O estilhaço – poesia
As folhas – poesia
O espaço – poesia
O orvalho – poesia
O papel – poesia
A pena...
Que pena que nada!

Massacrem! Pisem! Matem!
Amassem! Atirem! Quebrem!
Hoje estou poeta.
Hoje eu sou o tal.

AN AMERICAN TOUCH

Easier said than done.
Look at me! I'm sad today.
It's a touch colder today.
Look at me! I feel like a fool.
Endangered specimen I am.

Ain't it good to be in love?

Look at me! I'm sad today.
It's a touch colder today.
Nature made a mistake...
Easier said than done.
Look at me! I feel like a fool.

Ain't it good to be in love?

Don't answer now!
Don't answer now!
Don't answer now!

WEAK STRENGTH





I'll be in your company,
Now, tomorrow and forever...

Let me write about you,
Open the doors of your heart,
Vagabond pirate and gangster,
Eagle without wings in the wind.

I'll be your loyal friend,
Nightly poems to you...

Let me write about us,
Open your mind to my heart,
Venerable thief, I'll steal your kisses,
Eminent outlaw in love.



INTERNATIONAL DAY

Look at the stars in the sky!
Open your eyes and be woman,
Unhappy, never more! You'll fly.
Read in my eyes the question:
Do you see the wonderful world?
Endless peace! Wars, never more!
Smile... today's your day.

AINDA HÁ TEMPO

Já é tarde...
Invadiste meu peito
feito o cego punhal.
Quebraste meus olhos
feito o choque no trânsito,
Dilaceraste esse órgão
feito doença terminal.
Queimaste meu cérebro
feito chama infinita,
Iluminaste meu breu
feito o sol matinal.

Já é tarde...
Habitas esse espaço
feito imigrante leal.
Tomaste minha mente
feito desejo carnal.
Desviaste meus atos
feito um golpe mortal.
Mostraste a paixão
Feito um gesto banal.
Partiste sem adeus
deixando-me nesta tristeza total.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

NA CONTRAMÃO

                   

                   Era uma tarde chuvosa em um bairro do subúrbio da capital. Ela observava de longe duas pessoas que estavam frente a frente, conversavam, gesticulavam, escreviam algo. A chuva insistia e ela aproximava-se dos dois. Então reconhecia aquelas duas pessoas que escreviam compulsivamente – eram sua amiga e seu marido. Ela gritou, e acho que todos ali, ao redor, também gritavam, se não gritavam, logo após a fúria da suposta traída, “horrível!”, disseram eles.
                Porém, muito “mais horrível” foi quando todos perceberam que o texto elaborado era sobre a fidelidade no matrimônio – “mais horrível” foi que esse texto estava escrito em papel higiênico que se desenrolava por toda aquela avenida.
                     A chuva cessava e um sol causticante jogava-se sobre a pele dos curiosos, sobre a pele dos bisbilhoteiros, sobre a sua pele, a de seu marido, sobre a pele daquela que não seria mais sua amiga. Jogava-se também o sol sobre o texto que já era ilegível naquele dissolvido papel higiênico.

                     Todos se recolheram, seguiram destino, protegeram-se do sol, esqueceram o texto, esqueceram o casal. Entretanto, ela não esquecera que fora traída. Argumentos diversos, explicações verdadeiras não retiraram da mente daquela jovem senhora o ódio da traição. As provas de que sua amiga e seu marido eram fiéis a chuva havia levado.

EU TE ESPERO


Podes não vir,
Mas te espero.
De poesias
Podes não gostar,
Mas escreverei.
Podes até fingir,
Terei como verdade.
Podes também sorrir
Do meu sentimento,
Estarei surdo.
Podes não ocupar
O espaço vazio
Que por tanto tempo
Atormentou,
Mesmo assim te espero.

FASCINAÇÃO

Meus olhos não vêem
Teus olhos não vêm
Meus olhos esmorecem
Tua boca emudece

Minha boca resseca
Minha boca ressaca
Tua boca distante
Teus olhos me atacam

Teus lábios distantes
Meus lábios ressecados
Desejos constantes
Espaços limitados

Meus olhos – teus olhos
Nossos olhos fitados
Minha boca – tua boca
Nossos lábios separados.

CORES NOVAMENTE

Depois de um curto pesadelo, numa curta noite de sono, acordo-me deitado nesse escuro quarto sobre o meu fino colchonete, não mais fino que meus lençóis. Colchonete amarelo desbotado ou bege? Não vejo absolutamente nada, só o preto. Tateando, encontro o meu prateado relógio de pulso que repousava sobre a cor creme da cerâmica empoada do piso. Pressiono o pivô designado light acendendo em vermelho os numerais do mostrador. Ainda é cedo.
Vejo agora o preto e o vermelho. Fecho os olhos e vejo preto, cinza, vermelho. Com os olhos fechados vejo objetos no teto pendurados. Não têm formas fixas, são retângulos, quadrados, triângulos, círculos... pequenos, grandes (não tão grandes), cabem nesse escuro quarto. Fecho os olhos pretos e vejo o preto, quando os abro, o preto, o cinza, o vermelho – vermelhos. Os olhos fecho e abro continuamente.
Não mais durmo, nem cochilo, sequer um curto cochilo, mas o toscanejar continua tentando enlouquecer-me. O despertador do aparelho telefônico alerta. Tateando levanto-me. Olhos fechados ou abertos, não importa. Tateando encontro o interruptor e faço pressão, luz finalmente. Confirmo a espessura do meu colchonete. Colchonete desbotado sobre a poeira do piso. Vejo as horas sem premer aquela haste metálica cilíndrica, o pivô light. Essa é a hora de voltar pra casa.

VOU TOCAR A TUA MÃO

Lutas, batalhas, guerras
Orbitam nossos corpos
Ultrajantes dores nos arredores
Ruídos constantes e imperfeitos
Dúvidas, dádivas, devoções
Esperanças, expectativas
Silenciosos desejos nossos.

OUT

Êpa! Tome uma Schin
Mas não ofereça a um skinhead,
Provavelmente ele escalpelar-te-á.
Iska, iska, fora, cabeça-de-rola-doida!

Ei! Vista-se de novo!
Voa! Voa! Voa!
Quebra tuas asas...
Skapa! Skapa! Skapa!

Fura! Fora! Rasga! Larga! Pega!
Mas não fite um skinhead,
Seus olhos furam, apedrejam, rompem,
E outras cabeças-de-rola-doida rolam.

Cataplum, rataplá, tum dum,
Negro! Viado! Nordestino de merda!
Viva o Pavilhão Nacional, o Hino Nacional
Do meu Maravilhoso Brasil Varonil - Pou!

Viva a capa com Brazil no mundo!
Viva a política - encapa!
Viva o estilo dos skins nos trilhos - espanca!
Viva a merda nacional! Quebra o pau! Pau-brasil!

Morra a cara com capa de vil-imundo
Morra a mística! - Esparra!
Morra o destino dos pelados rústicos-vestidos
Mas viva a merda universal! E o PAU.

PESTE PRESSUROSA


Pelos pêlos pelejei
Para plagas plagiar;
Porra, pára! Parei.
Pois pedias pra parar.

Pensando "pudorar" passei
Pedindo pontos preponderantes,
Pelos pêlos passeei
Planejando passos picantes

Peguei, pensei pagando,
Pragas pungentes percebi;
Pássaros, pombas perfurando.

Penetrando pela pressa,
Pressionei perguntando:
Pressa posta, presta?

FINGIMENTO

Percebi agora que fede mais
Que as palavras ferem mais
Que os gestos machucam mais

Individualismo
Repúdio
Abismo
Hipocrisia
Cinismo
Solidão
Egoísmo
Revolta
Esnobismo
Falsidade
Egocentrismo

Descobri que agora fede mais
As palavras ferem mais
Os gestos machucam mais.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A POESIA

A Poesia penetrou minh'alma
Sem perfurar a pele
Sem esmagar os olhos
Sem dilacerar o coração

Apenas destruiu minha antiquada visão.

AI

Quando você pensa já era
O verbo já conjugado
O sim já afirmado
E o não já uma fera

A fera vem assustar
O homem despreparado
O amante mal amado
E o "amor" a contrariar

Ao contrário vem o sentimento
Onde as palavras vão com o vento
Onde os versos teimam em rimar
O meu grito preso no ar.

ABSOLUTA

Eu grito! Tu gritas!
Tu tens a verdade.
O que falo questionas,
O que gritas “tenho que ouvir”,
O que questiono tens que retrucar.

Eu calo! Tu gritas!
Tu tens a verdade.
O que silencio adivinhas,
O que pronuncias “ tenho que aceitar”,
O que adivinho tens que negar.

AUTÔMATOS CANINOS - CANÍDEOS AUTOMÁTICOS

Hoje sentei novamente naquele frio banco. Vi, outra vez, um gato malhado; um gato preto; dois gatos – seriam os mesmos? Observei um outro mais novo, filhote, branco – não era o mesmo que eu via outrora (novo demais).
E eu, o mesmo velho cão, aqui estático.
Hoje tomei novamente aquele café-com-leite, não era da mesma safra, não era da mesma vaca. Vi, outra vez, “velhos bois”; “novas vacas”; novos mugidos; novos berros; antiga ladainha. Os mesmos corredores – passarela. Observei uma outra “perua”, mais nova, ou mais velha, ou da mesma época.
E eu, o mesmo velho mudo, aqui estático.
Hoje fumei novamente aquele cigarro, não era a mesma fumaça, não era a mesma nicotina. Outras espirais, outras inspirações, mas é o mesmo pulmão. Talvez mais estragado, mazelado, manchado – o mesmo pulmão.
E eu, o mesmo velho bobo, aqui estático.
Hoje senti novamente o frio mais intenso dessa cidade. Senti na pele o eriçar-arrepiar-tremer-solidão. Senti na face o sal-lágrima-soluço-solidão.
Observei blusões e casacos sofisticados aquecendo corpos tortos, corpos eretos, esculturais. O tecido camuflando o errado, o erótico, o imoral.
E eu, o mesmo velho impotente, aqui estático.
Hoje vi novamente sorrisos pálidos, abraços frígidos, incentivos automáticos. Senti no ar o hálito intrigante dos bovídeos. Senti no ar o odor de algo enterrado pelos felinos.
Eu, o mesmo velho nostálgico, aqui estático. Neste frio banco branco.

ESTOU ACREDITANDO

Falas que me queres em tom excitante
Acenas com um lenço na névoa dos sonhos meus
Lamento os meus gestos tão desconcertantes
Adornas palavras pesadas nos xingamentos teus
Simulas aborrecimentos com meus atos irritantes

Quando irritado calo-me te irritando
Uivos silenciosos e internos me estrangulam
E o teu corpo invisível na névoa vou procurando

Meto-me num espelho imaginário e quebro minha imagem
Entrego-me a um reflexo denominado bobagem

Questiono a figura por mim criada
Ultrapasso suas formas complicadas
Enrosco-me em suas curvas provocantes
Repouso em seu colo intrigante
Engasga o meu silêncio perturbador
Sacramentando essa infinita dor.

ACRÓSTICO PERDIDO

Li parte da minha história em teus olhos,
Identifiquei “verdades em partes” nos teus olhos,
Nos meus tristes momentos parte da tua estória,
Danifiquei no todo da nossa história minha reação,
A destruição é a parte que cabe a essa escória.

LINDA MUSA

Meu nome é Linda, as pessoas, eles me acham muito bonita, às vezes eu me sinto assim – muito bonita. Ele me chama de Linda, ele faz questão em me chamar de Linda. Eles me esperam em qualquer lugar. Ele me espera toda manhã, toda tarde e noite, ele quer me ver passar. É, eles me chamam Linda, é o meu nome. Vêem beleza em tudo que faço, como me apresento. Ele sabe que sou linda, mas às vezes me acho carrancuda, mal humorada, enfim feia. Não exteriormente, mas, feia lá no íntimo. A fealdade está em minha mente, é o que penso, como ajo e reajo.
Já dei motivos para composições de belos poemas, alguns platônicos, outros vividos, explícitos, profundos, alguns supérfluos. Mas o meu verdadeiro poeta sempre me ver linda, ele me chama de Linda, ele coloca isso em poesia, em gestos e olhares, olhares loucos, e eu passeio. Eu passeio diante dos seus olhos toda manhã, toda tarde, toda noite.
Já estrangulei metáforas, já metaforizei ações e reações, já agi sem nexo, já reagi inconseqüente, já sintetizei longos textos em apenas um olhar desviado, já usei de toda sinestesia para mostrar o que sinto, o que vejo, o que me penetra. Já usei de toda Literatura para mostrar o meu limite, a minha condição, o meu objetivo. Ele pode pensar que esse objetivo é fazer umedecer seus olhos, estremecer seu coração, arrepiar a pele. Eles podem pensar que o meu objetivo é eriçar, içar seus órgãos, acelerar corações, ativar a libido, mas, no fundo, esse não é o meu objetivo. Às vezes acho que não tenho objetivo, objetivo algum. Às vezes acho que eu sou o objetivo. Para ele continuo linda. Para eles, tesão, desejo, beleza exterior. Eles não me conhecem. Ele só me conhece um pouco. Eu não os conheço, mas deduzo algo. Eu só o conheço um pouco, mas tenho certeza do que transita em sua mente.
Para eles, essa minha beleza exterior um dia terá fim. Para eles, esse tesão intenso em suas férteis mentes um dia findará. Mas, para ele, eu continuarei linda em nome, em pessoa, em alma, ou em lembranças.

PSEUDOFRUTO




















Mãos atadas
Aos olhos vendados
Na escuridão

Passos lentos
Nesse caminho estreito
Da obsessão

Frases soltas
Nesse texto torto
Da submissão

Coxas bambas
Após o sexo amargo
Rolando no chão

Cheiro salobre
Dessa transa “trépida”
Longe do colchão.

DOR

Entre os meus dedos
Entre essas linhas
Entra a poesia

Sobre o papel
Sobre meu sentimento
Sobre os meus ombros
Sob teu julgamento
O meu simplório dia

Entre os meus dedos
Entre essas linhas
Entra a agonia

Sob o tapete
Sob a poeira
Sob os meus pés
Sobre tua maneira
A alegre rebeldia

Entre os meus lábios
Entre os teus lábios
Essa distância fria.

EFEMERIDADE


Tivesse sido apenas
pele e pelo,
lábio e língua,
vulva e ventre,
saliva e sexo...
Tivesse sido.

A CAÇA (Lubricidade)


















O gingado provocante da “perua” que desfila insistentemente pelos corredores busca e rebusca os olhares masculinos, femininos e às vezes lésbicos.
Olhares de tara, olhares de inveja, olhares de sonhos e de desejos. A “perua” da qual falo não é a mesma “perua” descrita no Aurélio, pois essa não tem nada de cafona, também não é a fêmea do peru e nem tampouco tipo de caminhonete.
Lentos e sincronizados passos fazem com que suas rígidas e bem desenhadas nádegas movimentem-se numa vicissitude sensual.
-Olá. Boa noite! -Assim aproxima-se intencionalmente o dono de uma voz forte e rouca. Calada, como estava, ela permanece. Sequer um “oi”. Sentado em um dos bancos frios do corredor principal agora encontra-se aquele inebriante corpo feminino.
-Posso sentar-me ao teu lado? -Insiste o galanteador ansioso. Sem resposta. Mas, de imediato ele senta-se. Permanecem calados por alguns minutos, quando novamente ele libera sua voz mecânica e rouca.
-Sabias que tens lindos olhos? -Ela desvia o olhar à esquerda, lado oposto, e sacode seus cabelos com uma das mãos.
-Sabias que te observo há tempos? -Com um bocejar de desprezo agora ela desvia os olhos ao teto amarelado e sujo.
Levanta-se aquele escultural corpo sustentado por torneadas belas pernas. Mais um sacudir de cabelos. Silenciosa, parte pelos corredores a exibir aquelas divinas curvas.
-Um “tchau”, ao menos um olá, hein? -Insiste o teimoso garanhão de voz áspera e cavernosa. Mas, ela se vai. Sem pronunciar sequer uma sílaba ela o deixa ali sozinho.
Dia seguinte. Próxima noite.
Parecia mais provocante o desfile pelos corredores. Aquela “perua” (digo “perua” por não querer criar qualquer nome simplesmente) novamente magnetizava os olhares de cobiça, os olhares desejosos, os olhares de inveja. Senta-se no mesmo banco.
-Olá. Boa noite! Tudo bem? -E a mudez já irritante (meu ponto de vista) persistia.
-Lembras de mim? -Não mais pediu permissão para sentar-se. Não mais perguntou se poderia sentar-se. Simplesmente e de imediato senta-se.
-Sabias que tens lábios “apetitosos”? -Desta vez ele fora mais direto e talvez até mais libidinoso devido aquele olhar penetrante e aquela voz forte, rouca e agora mais pausada.
-Tu sabes que te observo há tempos! -Não mais indagou. Desta vez afirmou. Porém, se ele mudara, ela permanecera a mesma, calada, fria, uma “geladeira”. Ele cala-se.
Aproxima-se dos dois um outro corpo não menos belo, outros olhos, outros lábios não menos excitantes. Aproxima-se e pára em frente. Uma beldade! Deveria ser as figuras femininas mais enlouquecedoras que aquele rapaz havia observado.
Ligeiramente um toque de mãos entre elas. E ele observando. Um beijo labial ou de língua. E ele observando. Levanta-se a “perua”, coloca o braço sobre o ombro da outra e as duas vão se afastando.
-Um “tchau”, um “adeus” ou o teu nome pelo menos, hein? -Apela inconformado o rapaz.
Ela olha para trás, olha nos olhos dele, e com uma voz muito mais forte, muito mais mecânica, muito mais rouca, muito mais áspera e cavernosa que a dele diz:
-Carlão.






(Imagem retirada da Internet)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

IMPERTINÊNCIA

















Naquela mente articulavam-se planos ecléticos para um breve futuro. Seus olhos, naquele momento, observavam apenas a infinita estrada que à sua frente apresentava-se. Seus lábios cerrados e o semblante birrento mostravam a ira que trazia há tempos.
Seu corpo ocupava desconfortavelmente uma das poltronas de um transporte coletivo, transporte esse que o conduzia todos os dias ao seu local de trabalho. Aquele rapaz, de certa maneira, num desses trajetos à empresa na qual trabalhava, deixou transparecer um de seus desejos diversos, ou um de seus planos mutáveis que até aquele momento era oculto; desejava ele no seu transporte, em alta velocidade, capotar por diversas vezes e depois explodir. Todos ao conhecerem seu desejo absurdo passaram a repudiá-lo.
Numa quinta-feira fria de agosto, naquele labirinto de concreto que era a sua cidade com prédios imensos, cheia de antenas e redes elétricas, numa longa avenida congestionada, com buzinas atordoando os tímpanos, vinha lentamente um coletivo lotado e nele havia um rapaz ranzinza, solitário, sentado desconfortavelmente numa poltrona. Parecia nesse momento que o coletivo encontrava-se vazio, pois, nenhum ser humano dirigia-se àquele solitário desconfortável da poltrona dianteira. Em sua mente com certeza passavam planos ou desejos macabros.
E de súbito, ao tentar cruzar a linha férrea, aquele coletivo foi atingido violentamente pelo trem cruel; pedaços do ônibus espalharam-se naquela extensa avenida.
– Todos mortos! – Disse um dos curiosos que ali observavam o acidente. Depois que muito analisaram, um sujeito foi visto desconfortavelmente levantando-se do esgoto, era ele, sujo e resmungando:
– Vou chegar atrasado, droga!

VULTO


A sombra da imagem do meu pesadelo
Desloca-se da noite passada ao presente;
Importuna-me nessa insônia persistente
Enquanto sem sucesso lanço o meu apelo.

Meu grito silencioso apenas me incomoda,
Por dentro explode, desintegra, insiste;
Meu apelo, sem sucesso, não te acorda,
Mas a sombra da imagem é que persiste.

LAURÁCEA FLOR PERFUMADA

O T grande do teu corpo me chama de “motherfucker”
A porta larga do teu quarto cerra-se na minha cara
Eu o vampiro, o teu tchau a estaca
O meu peito o alvo, a tua ausência a arma a bala dispara
Na tela, a tua face, a matiz decalca
A beleza, a imperfeição, a imaginação repara
A seta dos teus olhos perfura o teu alvo – eu
O rosado da tua face cora a minha pálida cara
O teu riso excitante de tímido se escondeu
O teu olhar repentino trouxe a mim a felicidade rara
O teu disfarce óbvio descortina minha louca camuflagem
O teu repúdio implícito magnetiza a minha ingênua inspiração
O retorno é o círculo na minha louca viagem
O teu pensamento é o meu sentimento nos nossos lábios a colisão
À espera por tua voz me consumo por completo
Ao ouvir a minha voz me consomes lentamente
No silêncio penso o errado e o certo
Na boa teimosia permaneces em minha mente.

DESCARTÁVEL

E novamente eu disse calado
Olhei nos olhos do nada
E o silêncio adquiriu significado

E novamente de olhos fechados
Eu vi a magnitude do tudo
Nessa estreita e sombria estrada

E novamente chorei sem lágrimas
Solucei sem som, sem tom
Solitário nessa infinita jornada

E novamente mergulhei sem medo
Naveguei insano, teimoso
Versificando no mar da madrugada

E novamente eu ouvi calado
Escutei o barulho do nada
E o silêncio com seu significado.

DESPEDIDA INCERTA

















Ao chão a cinza – negra.
Às nuvens a fumaça – cinza.
Às cinzas o negro voltou,
Aos teus olhos agora o cinza.

A terra ao corpo inerme,
O verme o resto aterra;
À lama o novo voltou,
À terra, agora o germe.

Ao solo o nada – transparência,
À cânula a viscosidade.
Ao palato voltou a ardência
De falecer na morosidade.


(Imagem retirada da Internet)

DO LADO OPOSTO DA PORTA

Quando Seu Pedro chegou para mais uma jornada de labuta, naquela manhã fria de terça-feira, encontrava-se sentado à escrivaninha Doutor João. Com seu semblante inexpressivo, todavia, com sua delicadeza singular, folheava o livro de ponto. Doutor João, o legista, também se preparava para seu dia de trabalho. Nessa terça-feira havia chegado quatro corpos masculinos vítimas de um assalto fracassado a uma agência bancária. Aquela pacata cidade de repente estava perdendo seu ar de tranqüilidade. Seu Pedro sempre comentava com seus vizinhos e com seus companheiros de trabalho o quanto aumentava a violência naquele lugar. O legista recolhe seus instrumentos de trabalho e dirige-se ao local para iniciar seu ofício. Seu Pedro também se apodera de seus utensílios de ocupação (um escovão e uma pá) e inicia pelos corredores estreitos e longos seu serviço. Ao parar em frente à sala de necropsia o faxineiro ouve uma voz baixinha vinda do ambiente:
− Que desperdício! − Curioso, ele continua para à porta.
− Ah, como era grande! grosso! bem volumoso mesmo. Eu devia ter pegado mais firme. Nem caberia em minha boca. − Sendo o legista efeminado, Seu Pedro já imaginou coisas. Sendo o faxineiro ignorante, machão, já resmungava criticando o médico. Em voz baixa xingava de forma excessiva. Para ele o médico estava agindo indevidamente.
− Vou pegá-lo no flagra. − Pensou Seu Pedro. Esbarrando na porta, abrindo ele entrou. Depara-se com o médico porto de cócoras tentando apanhar um grande pedaço de sanduíche que havia caído de suas mãos.
Um corpo negro e forte encontrava-se na primeira bandeja. Um projétil havia perfurado a região central do cérebro.
− Ele gostaria de ser cremado, e pede para que avise a sua família a respeito desse desejo, pois nunca havia comentado. − Diz em voz calma e lentamente o faxineiro.
− Como? O senhor o conhece, Seu Pedro? − Indaga o legista.
− Não, nunca vi esse pastor.
− Pastor?!
Na segunda bandeja encontrava-se um corpo gordo e branco. Três perfurações no peito esquerdo e uma no fêmur.
− Ele pede perdão por seus atos para com Jonas, o garoto da primeira fila.
− O que dizes homem?
− Sim, o padre pede esse perdão.
− Padre?!
Na terceira bandeja um corpo separado do seu braço esquerdo. Um tiro, grosso calibre, havia almejado seu peito.
− Ele diz que não queria acertar a moça, e que foi um acidente. − Explica o faxineiro.
Um corpo garboso ocupa a quarta bandeja. Um tiro atingiu a fronte. Seu Pedro olha o corpo, observa o legista e diz:
− Esse aí seria eleito nas próximas votações. Ele diz que o povo não sentirá sua falta.
Seu Pedro, o médium, sai da sala rapidamente. Doutor João continua em seu trabalho.
Final de expediente. O legista, sensível aparentemente, deixa seu setor de trabalho. Ao passar em frente ao banheiro ouve uma voz baixinha vinda do recinto:
− Que desperdício! − Curioso, ele pára em frente a porta.
− Ah, como é grande! grosso! bem volumoso mesmo. Eu devia ter pegado mais firme e antes. Nem cabe em minha boca. − Sendo o legista sabedor da gula do faxineiro imagina:
− Seu Pedro deve estar comendo escondido, vou pegá-lo no flagra. − Esbarra na porta e perplexo depara-se com o faxineiro abraçado com o vigilante entre carícias.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

ENCANTO EM QUALQUER CANTO

Eu te espero ali...
No papel amassado
No papel branco
que tornar-se-á sujo
quando a caneta se derramar

Eu te espero ali...
Na teia na parede
Na cinza no teto
que cairá sobre meu corpo
quando em repouso me encontrar

Eu te espero ali...
Na poesia desamassada
Na brancura da celulose
Na parede úmida
No teto baixo
que cairá tornando-se repouso
para o nosso encontro.

AS FÊMEAS

Não quero culpá-las por completo,
Mas, repleto, estrangulá-las.
Estranho o Português das “lalas”...
Lá-lá-lá e lá-lá-lá
Passaram-se várias, eram raras...
Lá-rá-lá e lá-rá-lá
Cantarolam! Tentei cantar...
Lá no canto, não cantei,
E no canto, lá fiquei.

Não quero culpá-las de imediato,
Mas, no ato, devorá-las.
Estranha a língua das “araras”...
E os “papagaios” – coitados
Não traduzem...
Rá-rá-rá e rá-rá-rá
Cantarolam! Tentam cantar...
Lá no canto, as aves barulhentas
Em canto, num encanto se acasalam.

ELEMENTOS PERECÍVEIS

Quatro fedorentos e rachados pares de pés caminham incessantemente pelos becos imundos. Quatro corpos perdidos, adultos sofridos, crianças inocentes iludidas pela temperatura insana. As vozes sem nexo, os gritos de desabafo em silêncio, o choro fora de hora. Mas quando será hora certa afinal? Cáries e tártaros assassinos atacam fragmentos de dentes em bocas vazias de alimento. Nos bordos das pálpebras lágrimas misturam-se à remela matinal em olhos ainda esperançosos. Quatro pares de mãos com dedos e unhas sujas reviram sacos e latões de lixo à procura de algo para saciar a fome. Quatro corpos sofridos, adultos perdidos, crianças inocentes enganadas pela febrícula que de um certo modo aquenta um ao outro.
Imaginemos esses pés “calçados”. Seus pés, vinte e oito. O esquerdo calça trinta e dois, o direito tenta um vinte e seis. O esquerdo refresca o dedão involuntariamente, o direito aperta o mindinho necessariamente. O esquerdo, patriota, calça um verde-oliva e amarelo-ouro, o direito – comunista – tenta calçar um vermelho-sangue. Seguem ou ficam “calçados”.
Imaginemos esses corpos “vestidos”. Seus corpos magros e tortos, curtos e negros pelo sol. A caçula veste o blusão improvisado de estopa que pertence ao mais velho, revezam. O mais velho tenta vestir-se, consegue usar o calção da caçula, revezam. O pai e a mãe tentam fazer esse papel, e à noite, tentam aquecer seus filhotes sob corpos seminus. Sobre calçadas úmidas e sujas dividem um pequeno espaço com alguns insetos. Dormentes ou insones permanecem “vestidos”.
Imaginemos essas vozes e gritos “causando efeito”. Suas vozes tímidas e fracas, seus gritos surdos e ineptos. O mais velho grita em reclamações pelo frio insistente, grito inútil. A caçula chora, resmunga e soluça, seu estômago vazio, nada para embrulhar. O sono não chega. O pai e a mãe apenas resmungam pedindo ao Pai: dias, noites e madrugadas melhores. Permanecem insones ou dormentes sem efeito algum.
Um quarteto perdido na multidão perdida e cega. Quatro mentes indolentes diante da complexidade humana. Indagam-se, quando podem. Perguntam e suplicam a um ser superior, quando podem. Quando podem adormecem, sem o direito de sonhar. Um outro dia despontará. Percorrerão o mesmo caminho, ou um outro. Caminhos mais limpos pisarão, ou mais sujos, ou iguais. Sacos e latões mais recheados revolverão, ou vazios, ou iguais.
Quatro esfarrapados corpos despertam na manhã, ou apenas abrem os olhos. Olhos desnorteados. Nova remela. Os caminhos longos, os becos estreitos, limpos ou sujos os esperam.
Uma carícia brusca na caçula e de súbito um cafuné no garoto ao despertar, ou abrir de olhos, provocam dois inesperados e repentinos sorrisos os quais provocam nos pais suspiros quase que confortáveis.

ÓDIO GIRATÓRIO

Religiosos fanáticos
Sorrisos falsos
Comentários boçais.

Torcedores fanáticos
Fila única do Banco do Brasil
Portas com detector de metais.

Discurso antipático
Cuidado exagerado
Preocupações banais.

Meu ar de antipático
Tua possível revolta
Pensamentos imorais.

Inflexíveis boçais
Com palavras banais
No detector de metais
Todos se tornam iguais.

DESENCONTRO
















Eu caço
Tu Cássia
Eu calço
Nós descalços
Na calçada
Somos caça

No foco
O fato
Tu fitas
Eu foto

Eu chego
Tu faltas.


(Imagem retirada da Internet)

SEM TRADUÇÃO

Sílabas onomatopaicas
"lapadeiam minha audição"
com piriripompons irritantes
nesse dia-a-dia sem tradução.

De modo eufêmico "expelem"
vens-e-vais obscenos em repetição
comprimindo minhas palavras anti-poéticas
nesse cotidiano sem tradução.

Nádegas lançam-se das telas
"plasmando" o expectador babão
com pompompiris bestificantes
nessa rotina sem tradução.