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" Viva a Poesia! "

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

NA CONTRAMÃO

                   

                   Era uma tarde chuvosa em um bairro do subúrbio da capital. Ela observava de longe duas pessoas que estavam frente a frente, conversavam, gesticulavam, escreviam algo. A chuva insistia e ela aproximava-se dos dois. Então reconhecia aquelas duas pessoas que escreviam compulsivamente – eram sua amiga e seu marido. Ela gritou, e acho que todos ali, ao redor, também gritavam, se não gritavam, logo após a fúria da suposta traída, “horrível!”, disseram eles.
                Porém, muito “mais horrível” foi quando todos perceberam que o texto elaborado era sobre a fidelidade no matrimônio – “mais horrível” foi que esse texto estava escrito em papel higiênico que se desenrolava por toda aquela avenida.
                     A chuva cessava e um sol causticante jogava-se sobre a pele dos curiosos, sobre a pele dos bisbilhoteiros, sobre a sua pele, a de seu marido, sobre a pele daquela que não seria mais sua amiga. Jogava-se também o sol sobre o texto que já era ilegível naquele dissolvido papel higiênico.

                     Todos se recolheram, seguiram destino, protegeram-se do sol, esqueceram o texto, esqueceram o casal. Entretanto, ela não esquecera que fora traída. Argumentos diversos, explicações verdadeiras não retiraram da mente daquela jovem senhora o ódio da traição. As provas de que sua amiga e seu marido eram fiéis a chuva havia levado.

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