Era
uma tarde chuvosa em um bairro do subúrbio da capital. Ela observava de longe
duas pessoas que estavam frente a frente, conversavam, gesticulavam, escreviam
algo. A chuva insistia e ela aproximava-se dos dois. Então reconhecia aquelas
duas pessoas que escreviam compulsivamente – eram sua amiga e seu marido. Ela
gritou, e acho que todos ali, ao redor, também gritavam, se não gritavam, logo
após a fúria da suposta traída, “horrível!”, disseram eles.
Porém, muito “mais horrível”
foi quando todos perceberam que o texto elaborado era sobre a fidelidade no
matrimônio – “mais horrível” foi que esse texto estava escrito em papel
higiênico que se desenrolava por toda aquela avenida.
A chuva cessava e um sol
causticante jogava-se sobre a pele dos curiosos, sobre a pele dos
bisbilhoteiros, sobre a sua pele, a de seu marido, sobre a pele daquela que não
seria mais sua amiga. Jogava-se também o sol sobre o texto que já era ilegível
naquele dissolvido papel higiênico.
Todos se recolheram, seguiram
destino, protegeram-se do sol, esqueceram o texto, esqueceram o casal.
Entretanto, ela não esquecera que fora traída. Argumentos diversos, explicações
verdadeiras não retiraram da mente daquela jovem senhora o ódio da traição. As
provas de que sua amiga e seu marido eram fiéis a chuva havia levado.
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