Majal-San (post.)

Visualização de número:

Encontre / Find

" Viva a Poesia! "

domingo, 14 de março de 2010

CICATRIZ PREVISTA

Isso é parte da história de um indivíduo que detestava aparelhos telefônicos celulares. Suas campainhas irritantes, as conversas alheias em voz alta e atropelada. Mas, justo que um dia, por infame necessidade, precisou adquirir o famigerado aparelho. Na época, novidades, mensagens aos amigos, aviso aos companheiros de trabalho, solicitação de “reunião etílica” com alguns poetas da cidade, etc., tudo isso era facilitado através de um alô ou um “teclar”.

Dias vêm, dias vão, e ele vai sem um arranhão. Nenhum arranhão na mente, na alma ou no coração. Sem querer aqui plagiar Cazuza, mas, o tempo não pára. Eis que esse ser comunicativo conhece o “BLAH”, cadastra-se. Comunica-se com várias pessoas de diversas partes do país. Algumas pessoas intuitivamente sinceras, outras nitidamente falsas, fantasiosas. E o tempo teima em prosseguir. Ele, às vezes, querendo ser cavalheiro, às vezes bruto, às vezes sensível, outras vezes intocável, personagem enfim.

Cavalier8 um dia entra em contato com Odalisca43. Mensagens vêm, mensagens vão, e ele vai sem um arranhão. Nenhum arranhão na consciência, nos atos ou na imaginação. Intimidades compartilhadas, amizade feita.

A dona do “nick” (redução de nickname), digo, apelido, tem nome de princesa. Voz sensual, desde então, já não eram apenas mensagens de textos, mensagens gráficas, veio a voz. Aquela voz mexeu demais com Cavalier8, e Dayana (é sim, Dayana com “a” e “y”, não como a princesa) dizia que havia gostado muito da voz dele. O sujeito de voz forte e determinada, passava “longos e longos minutos” com o aparelho celular ao ouvido. Narrações íntimas, dança do ventre imaginária como dizia Odalisca43 e como fantasiava Cavalier8.

Depois de nove meses (não foi uma gravidez), foi mais que isso, eles resolvem marcar um encontro, marcam. Encontram-se numa praça, no centro da cidade. Ele chega no território da moça pisando firme e disposto a só retornar dia seguinte. Providencia um hotel. Hospeda-se. Quarto 137.

Mais tarde, toca o aparelho telefônico móvel:

-Tô aqui em frente. -Escuta ele aquela voz excitante. Era ela que havia retornado de casa depois de ter ido trocar as vestes. Ela estava muito mais linda e provocante que antes. Ele desce. Cumprimentam-se e depois os dois sobem. Entram nos aposentos e iniciam de súbito a sessão de beijos e toques gostosos, enfim... Aparelhos telefônicos desligados. Isso era o aconselhável.

Hora da despedida. O indivíduo já imaginava a próxima vez. O que antes ardia, agora queima, e queima sem dó.

Tentativas, tentativas e tentativas...

“Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens e estará sujeita à cobrança após o sinal”.

Corta-se profundamente sem sangrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário